Eu sempre quis ter acesso a uma obra que reunisse os principais pensamentos e idéias de mulheres reais que passaram pela terra desde o início da civilização. Mulheres do mundo inteiro e de todas as idades, que de alguma maneira marcaram a história e fizeram com que seus nomes ganhassem fama ainda que milhares de anos mais tarde…
Daí pesquisando, encontrei este livro chamado Sacred Voices – Essential Women`s wisdom Through the Ages (Vozes Sagradas – Sabedoria Essencial das Mulheres ao longo das Épocas), escrito/editado pela escritora Mary Ford-Grabowsky que é doutora em Teologia e Espiritualidade.
O livro faz um apanhado das principais figuras femininas que se destacaram na história por sua sabedoria e espiritualidade em diversas épocas e lugares do mundo, contando um pouco do que se sabe e do que se tem documentado sobre a vida e obra de cada uma. Um primor, de fato!
Confesso que fiquei um pouco desapontada quando iniciei minha leitura, por achar tudo muito fragmentado, sem sentido e desconexo. Não conseguia me identificar com nenhuma daquelas mulheres, e cheguei a considerar abandonar o livro de vez. Porém um dia, folheando as páginas sem compromisso ou intenção de ler, me vi numa parte do livro com histórias muito mais coesas, e com uma narrativa bem mais detalhada e interessante!
Foi nesta parte que li várias histórias fantásticas, como a história de Dhuodana (803 – 843), uma francesa que depois de ter sido forçosamente separada de seus dois filhos, resolve então escrever um livro intitulado “Um manual para William” direcionado ao seu filho mais velho de 16 anos, pois o nome de seu caçula que ainda era bebê, ela sequer sabia.
Sua intenção com este livro era transmitir aos seus filhos todo aquele legado de ensinamentos e lições de mãe, que ela infelizmente não teria a oportunidade de transmitir pessoalmente ou através da convivência. Achei a coisa mais linda e pura a maneira como ela introduz o livro ensinando a William quem é Deus e como amá-Lo e adorá-Lo… Ela pede encarecidamente que ele repasse estes mesmos ensinamentos a respeito de Jesus ao seu irmãozinho, quando ele crescer.
Dhuodana também desafia seus filhos a sempre buscarem a paz com todos os homens e, sobretudo, a perseguirem o conhecimento através de muitos, muitos livros… Pouco tempo depois da conclusão do livro “Um manual para William”, Dhuodana morre, no ano de 843.
Agora, a história que realmente me marcou e me deixou de cabelo em pé, foi a história de Perpetua (182 – 202), da Tunísia! Basicamente, e por ser cristã, ela se recusa a participar do sacrifício anual aos deuses romanos (que era obrigatório a todos os cidadãos de Roma), e acaba sendo presa juntamente com sua criada, que por sinal estava grávida e deu à luz na prisão!
Perpetua tinha 20 anos e um bebê que ainda mamava no peito. Em seu diário, ela descreve as diversas visitas que seu pai lhe faz na prisão, implorando pra que ela abandone a fé em nome do seu filho, que ainda era tão dependente da mãe… Numa das primeiras visitas, ela toma um vaso nas mãos e diz ao pai: Por acaso este vaso pode ser chamado de outra coisa que não seja “vaso”? Eu, da mesma maneira, não posso ser chamada de outra coisa que não seja “cristã”, porque é o que sou.
Ela não nega sua angústia, culpa e ansiedade em relação ao seu filho, e ora a Deus pra que providencie uma solução. Foi quando ela obteve permissão para manter o bebê junto dela no cárcere até o dia da execução de sua pena: morte na arena por animais ferozes.
Até então, ela ainda não havia orado a Deus a respeito da pena imposta, e se por acaso Ele a haveria de livrar das mãos das autoridades romanas. A pedido de seu mui querido irmão, Perpetua ora, e Deus lhe dá um sonho em resposta:
Então eu vi uma escada de bronze que chegava até o céu, e em sua base, havia um dragão. Eu orei em nome do Senhor, e o dragão se agachou. Pisando em sua cabeça, eu subi a escada até o topo… E um homem de cabelos grisalhos, rodeado por milhares de pessoas vestidas de branco, se dirigiu a mim e disse: Bem-vinda, minha filha! Ao que eu respondi: Amém!
Diante desta resposta, Perpetua conheceu o destino que a aguardava… E a partir daí, ela passa a orar diligentemente pedindo a Deus que console seus familiares, cuide de seu bebê, e a ajude a enfrentar a dor física que dali em breve viria a sentir na carne.
Pouco tempo antes de cumprir sua sentença de morte, Perpetua sentiu de Deus o conforto de que seu filho não passaria fome pois já não precisaria mais do leite materno. Um sinal recebido foi o alívio da dor e da sensação de pressão nos seios que ela sentia constantemente, mas que agora já não sentia mais.
E a história de Perpetua termina assim: ela na arena com um animal feroz, e depois de alguns golpes e diante da impaciência da *platéia*, a espada de um soldado romano lhe tira a vida.
É claro que Perpetua não foi nem a primeira e nem a última mártir cristã… Mas quando tento imaginar e mensurar o tamanho de tudo o que ela sentiu, e as decisões de coragem que ela precisou tomar para cumprir o desígnio de Deus, chego a estremecer. O nível de desprendimento de Perpetua é algo realmente impressionante. Ela se desprende do sentimento de culpa por ser mãe, da necessidade de ser aprovada e aplaudida por suas decisões, e principalmente: ela se desprende do direito de ser livrada!
Fico pensando em como nossos corações estão cada vez mais investidos no lugar errado. A supervalorização dessa vida não nos deixa ver a história de Perpetua sem aflição e tormento… Será que pensamos como seu pai, que certamente acreditava que Perpetua mais perderia (pelas coisas que ela deixou pra trás), do que ganharia (pelas coisas que a aguardavam ao lado de Jesus)?
Eu mentalizo o céu e me pergunto: Isso aqui que eu conheço como vida vale mais do que a vida eterna ao lado de Jesus, que eu não conheço, mas que pela fé eu sei que é muito maior? Será que essas perguntas nada mais são do que o reflexo do que tem sido ensinado por aí? De que o evangelho é um meio para alcançarmos não a Jesus e a salvação, e a vida eterna; e sim para alcançarmos as coisas que queremos ter, no aqui e no agora, de acordo com nossos interesses pessoais…?
Ficam as perguntas. Precisamos orar a fim de encontrarmos graça e misericórdia da parte de Deus, pra que Ele nos endireite e não nos deixe viver enganados. Espero que este post e a história de Perpetua nos ajude a avaliar o lugar onde se encontram nossos corações…