O ano de 2011 foi pra mim um ano de muito trabalho, longas viagens e excepcional desenvolvimento pessoal e profissional. Foi inevitável me dedicar mais incisivamente à carreira e à literatura técnica, deixando em standby uma série de livros e obras de ficção que há muito – mas muito tempo mesmo – eu vinha namorando nas prateleiras do meu escritório.
Pra vocês terem uma idéia superficial, desde 2006 – sim, há seis anos – eu tento ler “Crime e Castigo” do Fiodor Dostoiévski – um estupendo livro que ganhei quando meu marido e eu ainda namorávamos, e que passeou pelas minhas mãos em intervalos da faculdade, horários de almoço do trabalho, e em várias outras brechas de tempo em que eu conseguia ler, em média, duas linhas e meia por vez.
Porque Dostoiévski é assim: tem que ler cada parágrafo pelo menos umas cinco vezes para um primeiro reconhecimento das palavras e seus sentidos; e mais umas cinco vezes para captar as intenções do autor em ter dito aquelas palavras e atribuído aqueles sentidos.
E em Janeiro deste ano, em duas semanas de férias que tivemos na companhia da minha cunhada mais nova, resolvi abrir “Crime e Castigo”, e só interrompi a leitura para comer, ir ao banheiro, tomar banho e dormir.
Foram 561 páginas de uma estória triste, pesada e oprimente, contada no melhor português (tradução impecável de Paulo Bezerra), com um requinte absurdo de detalhes, que chega a me dar pavor ao pensar na mais remota possibilidade de eu ter que assistir a um filme baseado nesta obra.
Cada personagem, do protagonista aos coadjuvantes, é meticulosamente retratado e exposto sem qualquer pudor, embaraço ou vergonha. A cada novo capítulo eu via meu grau de empatia crescer e aumentar, a ponto de olhar para os lados e meio que me assustar com meu envolvimento e apego àquelas pessoas que nem eram reais, e só existiram no limite do imaginário e das páginas de Fiodor Dostoiévski.
Não quero fazer resenha do livro, ou contar pra vocês a estória que ele narra, sobretudo porque eu sei que vou acabar estragando a surpresa e denunciando o misterioso final, que é o que eu sempre faço quando compartilho filmes e livros com alguém.rs
Mas a página 39 de “Crime e Castigo” traz um discurso muito profundo e curiosamente inesperado, proferido por um bêbado que desabafa a desgraça da sua vida numa taberna, ao que todos ouvem atentamente, mesmo sem conhecê-lo.
De acordo com as minhas contas, eu voltei a esta página 39 pelo menos umas oito vezes só para me “ver” mais uma vez naquela taberna, no meio daqueles beberrões, “ouvindo” a sinceridade e genuinidade do discurso daquele bêbado. Eu entrei naquela taberna e vi a verdade saindo do homem que proferia o discurso…
“… terá piedade de nós Aquele que teve piedade de todos e a todos e tudo compreendeu, Ele é o único e também o Juiz. Ele voltará no dia do juízo e
meperguntará: “Onde está a filha que se sacrificou por uma madrasta má e tísica, por crianças estranhas e pequenas? Onde está a filha que teve piedade de seu pai terrestre, um bêbado indecente, sem lhe temer a crueldade?” E dirá: “Vem! Eu já te perdoei uma vez… Te perdoei uma vez… Perdoados serão também desta vez os teus muitos pecados porque ela muito amou…” E perdoará a minha Sônia, perdoará… eu sei que perdoará. Isto eu senti há pouco no meu coração, quando estive na casa dela! Ele julgará e perdoará a todos, os bons e os maus, os sábios e os cordatos… E quando terminar o julgamento de todos, chegará a nossa vez de Lhe ouvir o verbo: “Aparecei, dirá Ele, também vós! Aparecei bêbados, aparecei fracotes, aparecei desavergonhados!” E nós apareceremos, sem acanhamento, e nós nos apresentaremos. E Ele dirá: “Sois uns porcos! a imagem e a marca do bruto… Mas vinde também vós! E falarão os sábios, falarão os sensatos: “Senhor! Por que recebeis a estes?” E Ele dirá: “Eu os recebo, sábios, eu os recebo, sensatos, porque nem um só deles se considerou digno disto…” E Ele nos estenderá os Seus braços, e nós Lhe cairemos aos pés… e começaremos a chorar… e compreenderemos tudo! (…) Senhor, que venha o Teu Reino!”
Só de escrever este trecho eu já me arrepio da cabeça aos pés e me dá aquele nó na garganta… O que este homem propôs naquela taberna foi uma visão coletiva, uma profunda meditação e reflexão a respeito não só da sua condição errante e transgressora por ser um bêbado que vivia de bar em bar, mas da condição humana em geral: fraca, conflituosa e irremediavelmente dependente da graça e do perdão de Deus.
E à medida em que ele conduz a meditação descrevendo esta condição humana com palavras duras e até mesmo chulas, ele expõe a sua auto-consciência com tanta verdade e sinceridade, que ali mesmo ele se torna apto à herança do Reino de Deus. Jesus viu ali tanta sinceridade que não só lhe concede o perdão, como o recebe de braços abertos em Seu Reino… (Enfim. O livro não é sobre isto, mas esta passagem me prendeu a atenção =) )
Bom… o mundo não é justo… nunca foi, nem nunca será. E o livro, na minha opinião, retrata uma das diversas possibilidades de condutas e interpretações morais, num mundo onde não há favor ou justiça: existiu um crime? Existiu um castigo? E qual castigo foi este? Ele se arrependeu? Ele era doente?
Eu tenho as minhas opiniões a respeito destes temas do final do livro, mas não quero expô-las para não estragar a leitura de quem ainda pretende conhecer a estória de “Crime e Castigo”. É uma leitura pesada, num cenário muito melancólico e oprimente, mas ao mesmo tempo é uma leitura bastante rica, gostosa e envolvente…
Se você já leu, me conte o que achou? Se ainda não leu, eu super recomendo e sugiro que você não se prenda somente ao eixo principal da estória, mas fique atento também aos conflitos pessoais de cada personagem individualmente =)
Na semana que vem, contarei um pouco sobre um dos melhores livros que li nos últimos anos: The Kite Runner (O Caçador de Pipas), de Khaled Hosseini.
amo ler!
Eu também!! ❤
Oi Diana!
Ótimo post, vejo que gosta muito de ler, tenho 17 anos e quero fazer arquitetura e moro em São Paulo, já que você se formou numa ótima faculdade, gostaria que você me respondesse através de e-mail ou em vídeo para todas aquelas que te acompanham, sua experiência na Puc, e como faz para entrar nesta faculdade, e como foi sua época de escola, métodos de estudo, enfim, desde já agradeço, e continue com ótimos posts.
Parabéns.
Abraços.
Carol.
Ótima sugestão, Carol!! Vou providenciar e em breve postarei 😉
Beijo grande pra você!!!
Meu grande hobby é ler, nunca li esse livro mais fiquei bastante interessada!
beijão ótima semana!
Ei, Ana! Obrigada pela mensagem! Este livro é bastante rico, e tenho certeza que você vai gostar!! Beijos, linda!! E boa semana pra você também! =)
esse livro é muito bom!
Você já leu? O que achou? Vamos trocar figurinhas 😀
Bjkas!! =***
Eu já li, o livro é sensacional. Com toda uma trama e uma inquietação pessoal e social, envolvendo questões terrenas e divinas, nos remete a reflexão muito construtiva.
Recomendo alguns livros que sou apaixonado:
– admirável mundo novo( aldouls Ruxley)
-Regresso ao adimirável mundo novo( de desmo autor)
– 1984( george Orwell)
– A revolução dos bixos( também de George)
– Mein Kampf( minha luta hitle)